Antes, uma infância coibida, de educação rígida, com crianças vestidas de mini adultos, grande parte das vezes sem vez e sem voz.
Agora, uma infância estudada, considerada, dando tanta vez e voz para as crianças que passa muito do ponto. Os pequenos estão mandando nos pais e decidindo o que querem ou não sem o direito de serem guiados. Sim, direito! As crianças precisam e merecem ser guiadas.
Melhorou? Piorou? Ou estamos fazendo igual disfarçado de diferente?
Muito se fala sobre o quanto nossas experiências na infância são definidoras da vida toda: traumas, faltas, ausências, posturas mais ou menos equilibradas dos pais, etc
Mas, pouco se fala que os papais e mamães de hoje são as crianças de ontem que querem, a qualquer custo, fazer diferente do que viveram… e a consequência disso é um completo estrago.
A adulta que hoje julga seus pais como falhos vai falhar miseravelmente com disfarce, com máscara de melhor, mais atualizada, mais cuidadosa… Será?
Em vez de rigidez, extrema frouxidão.
Em vez de limite, ausência completa de regras.
Em vez de obrigações, imprevisibilidade.
Em vez de uma postura fria (sem demonstração de afeto), beija-se, abraça-se e apanha-se da criança.
Já deve ter escutado algo assim: “na minha época não tinha isso, as crianças de hoje… bla bla bla”
Eu não estou dizendo que era melhor, menos ainda que hoje é pior. O que quero com essa prosa é considerar que talvez ainda não tenhamos encontrado a curva da vara, o equilíbrio.
Me preocupo muito com as distorções que vejo diariamente em meu consultório ou fora dele. Adultos que seguem como uma receita mágica o que escutam em redes sociais, desconsiderando completamente o indivíduo, o contexto, as histórias pregressas e o momento atual. Vejo pais buscando solução para os filhos sem, ao menos, olharem para si. Vejo a lei da hierarquia sendo desrespeitada. Vejo crianças no controle e na direção da família inteira. Vejo inversão de papéis. Vejo mães invalidando pais e vice versa, impactando assim a inteireza da criança, afinal, ela é a soma perfeita de seus pais e quando um ou ambos estão frágeis, não há caminhos nem receitas de internet que fortaleça a criança.
Será que a infância de hoje está igualmente desrespeitada como sabemos que foi no passado? Será que apenas estamos errando diferente com os pequenos? Será que basta colocá-los em várias atividades e aulas especializadas? Será que colocar em terapia ou medicar basta?
Antes de cuidarmos realmente das crianças precisamos olhar para os adultos, pais e mães, que transbordam para os filhos o que têm dentro. E não vai adiantar o desejo genuíno de uma vida melhor para os que chegaram depois se a base (raiz) não for devidamente tratada, cuidada, adubada! A solução para as crianças começa nos pais!